10 de dez. de 2010

HISTÓRIA DOS TECIDOS

  


As principais técnicas de conservação de tecidos nos museus



Cheiro de mofo e manchas amareladas são processos de envelhecimento pelo qual toda roupa esquecida em uma gaveta pode passar. Potencialize esses efeitos por centenas ou até milhares de anos e terá uma ideia do estado em que roupas, tapetes e outros tecidos chegam aos museus.
Mas qual será o processo que essas instutuições usam para conservar tecidos extremamente antigos? Para descobrir esse segredo, o MODASPOT conversou com Patricia Sant’Anna, especializada em museologia e professora dos cursos de graduação e pós-graduação da Universidade Anhembi-Morumbi.
Quais são os principais problemas que roupas antigas apresentam ao chegar aos arquivos?
Isso depende muito do museu, mas, aqui no Brasil, na maioria das vezes as roupas costumam chegar em bom estado. Os principais problemas são manchas, mofos e oxidações causadas naturalmente pelo tempo de uso, que acabam deixando as roupas amareladas, principalmente as de tecido natural. Outro problema são os furos no tecido causados por animais como traças, baratas e mosquitos. Tecidos naturais, como o algodão, a seda e a lã, quando muito antigos, também podem apresentar desidratação intensa, o que faz com que eles esfarelem.
Quais as principais medidas usadas nos museus para preservar as roupas?
O inimigo número um das roupas é a luz, que leva ao desgaste e desbotamento das peças. Para evitar que isso aconteça, as roupas ficam armazenadas em locais escuros e, mesmo quando expostas, prefere-se deixá-las sob pouca luz ou em esquema de revezamento de peças. Outro fator de preocupação são insetos e animais. Para cupins, traças e baratas, costumamos utilizar barreiras químicas. Para animais maiores, como pássaros, telas de proteção são colocadas, como aquelas existentes no Museu Paulista. Além disso, as peças quase sempre são guardadas em posição horizontal, e nunca em cabides, para evitar deformações. E quanto à umidade e temperatura, utilizamos desumidificador e ar condicionado para manter o ar mais frio e seco.
E em relação à conservação de acessórios, como os museus procedem?
Couros, pérolas, peles e outros produtos de origem animal exigem cuidados específicos, pois sofrem um processo de deterioração acelerada. O couro, por exemplo, costuma ser reidratado, pois tende a ressecar. Com a pele acontece um processo semelhante, por isso, elas são mantidas em temperaturas baixas, como as mulheres faziam nos filmes de gângsters deixando suas peles em frigoríficos. Para os acessórios, o principal cuidado é com as pérolas, que por serem de calcário de origem animal, podem murchar com o tempo. Ouro e prata oxidam, mas podem facilmente ser limpos antes da exposição. Com os diamantes não há quase com o que se preocupar, como já se disse por aí, eles são mesmo eternos.


Museu londrino exibe vestidos usados pela Princesa Diana
O Bath Fashion Museum colocou em exibição uma coleção de vestidos usados pela Princesa Diana de Gales durante seus anos como membro da familia real britânica. A mostra, que fica em exposição de 17 de julho de 2010 até 9 de janeiro de 2011, é composta por vestidos de diversas grifes, como Versace e Catherine Walker, e foram todos emprestados por colecionadores. Diana Frances Spencer se casou com o Príncipe Charles em 1981, quando tinha 20 anos. Conhecida como a Princesa do Povo, Lady Di dedicou seus anos de reinado a trabalhos sociais, como a campanha contra as minas terrestres e o combate à AIDS. Além de se tornar uma das melhores amigas do cantor Elton John, Diana foi também um ícone de elegância e moda, tanto que ganhou até uma bolsa Dior em sua homenagem, a famosa Lady Dior. O casamento com o príncipe (com quem teve dois filhos, os príncipes William e Harry) durou 15 anos e eles se separaram em 1996. Apenas um ano depois, em 1997, Diana morreu em um trágico acidente de carro em Paris. Confira na galeria abaixo algumas fotos da exibição.


História dos tecidos
No livro Tecidos: História, Tramas, Tipos e Usos (Editora Senac, 2007), a jornalista Dinah Bueno Pezzolo conta que a tecelagem é considerada uma das artes mais antigas do mundo. O surgimento? Questão de necessidade, para proteger o corpo humano do frio e das intempéries naturais. Primeiro, os homens se aventuraram no entrelaçamento de galhos e folhas – e assim nasceria a cestaria. A partir daí, novos modos de entrelaçar foram descobertos, assim como novos desenhos, texturas e materiais.
Dinah Bueno Pezzolo, ancorada na antropóloga Olga Soffer, diz que o mais antigo indício da existência de têxteis na história da humanidade data de mais de 24 mil anos, no período Paleolítico.
Já no Neolítico, vestígios encontrados por arqueólogos indicam os avanços na cultura têxtil. “No Egito, foram descobertos tecidos feitos de linho que datam de 6000 a.C. Na Suíça e na Escandinávia, foram encontrados tecidos de lã datando da Idade de Bronze (3000 a.C. a 1500 a.C.). Na Índia, o algodão já era fiado e tecido por volta de 3000 a.C. Na China, a seda era tecida pelo menos mil anos antes de Cristo”, conta Dinah.
Nos livros e enciclopédias de moda, quatro fibras se destacam por sua importância histórica: o linho, a lã, o algodão e a seda. Confira a trajetória desses fios e o seu entrelaçamento com outras invenções têxteis ao longo da história.


História dos Tecidos – Idade Antiga
Desde a pré-história, os tecidos foram fundamentais para a história do homem. No Egito, os faraós eram embalsamados com o linho, símbolo de poder e riqueza. Na Mesopotâmia, a lã ganhou importância, com a domesticação de carneiros e ovelhas. Saiba um pouco mais sobre cada um desses períodos a seguir.
Da família das lináceas, o linho é um dos tecidos considerados mais nobres na história da moda, por sua tradição. No Egito antigo, os faraós eram embalsamados com o linho, o que era um símbolo de poder e de riqueza. As planícies do rio Nilo servem de leito para o linho há milhares de anos.
Segundo Dinah Bueno Pezzolo, o tecido vestia faraós e rainhas egípcias e, quando plissado, ficava ainda mais gracioso e belo devido à transparência de sua textura fina. O fio nobre se espalhou pela Europa graças aos fenícios, comerciantes e navegadores ilustres que o levaram para a Irlanda, a Inglaterra e a Bretanha. No entanto, foram os romanos que iniciaram o cultivo no norte europeu.
De acordo com Gilda Chataignier, o linho já prenunciava pinceladas de moda na Antiguidade (ainda que o conceito só tenha se definido no fim da Idade Média), pois o linho branco era usado para realçar as suntuosas joias dos faraós, reis e rainhas. Nascido em planícies áridas, o linho conquistou o status de fibra nobre, por seu toque macio e delicado.


Lã Mesopotâmia
A Mesopotâmia (atual Iraque) foi pioneira na domesticação de carneiros e ovelhas, essenciais para a trama das lãs. Antes da Mesopotâmia, porém, os povos nômades já usavam a lã, mas de uma outra maneira: na Idade da Pedra, os homens se alimentavam da carne de carneiro selvagem e depois usavam sua pele como agasalho.
Escavações arqueológicas na Mesopotâmia, no Oriente Médio, revelaram fragmentos dos primórdios da lã. Na Idade Antiga, as lãs da Mesopotâmia se tornaram famosas, passando a circular por centros importantes do Oriente, até que se tornaram a principal fibra da Europa boreal. A trama era usada como ornamento nas roupas de diversas culturas do Oriente Médio e, na Idade Média, conquistaram as cortes europeias.
Atualmente, a lã fina, do carneiro merino, originário da Espanha, se destina especialmente para alta-costura e prêt-à-porter de luxo. Enquanto isso, a lã de raça cruzada se volta para peças mais acessíveis do prêt-à-porter.


História dos Tecidos – Idade Antiga
Do Oriente ao Ocidente, o algodão teve forte influência sobre várias culturas. Já a seda, nascida na China, ganhou fama e se tornou cobiçada no Ocidente. O trajeto entre China e Roma se tornou a Rota da Seda, com 7 mil km de extensão, atravessando territórios da Rússia, Índia, Afeganistão, Paquistão, Iraque, Irã, Síria, Turquia e Armênia.


3000 a.C.: O algodão no Paquistão e na Índia
A Índia e a Etiópia lideraram as primeiras peças tecidas de algodão. Antes conhecido como “lã de madeira”, “lã de árvore” e “ouro branco”, o algodão se tornou a fibra mais usada do mundo. O algodão cultivado no Egito se tornou mundialmente famoso, por ser incrivelmente forte e macio. Às margens do Rio Nilo, o clima e o solo são ideais para essa cultura. Assim, o Egito conquistou um capítulo à parte na história dos tecidos.
Atualmente, há quatro tipos de algodão para fins têxteis: upland (América Central e Caribe), egípcio (Egito), sea-island (ilhas no sudeste norte-americano e ilhas nas Índias Ocidentais, como Barbados) e asiático (Ásia meridional).
De acordo com Dinah Bueno Pezzolo, Heródoto dizia no ano 445 a.C. sobre o que vira na Índia: “Ali encontramos grandes árvores em estado selvagem cuja fruta é uma lã melhor e mais bonita que a de carneiro. Os indianos utilizam essa lã de árvore para se vestir”. O algodão egípcio é considerado o melhor e mais fino do mundo. No século VIII, o linho se tornou o principal tecido europeu. No século XIII, despontavam as “batistas”, tecidos finos de linho em vestidos, camisas e roupas íntimas.
Na América, o algodão selvagem era cultivado desde 5800 a.C., segundo vestígios descobertos em uma gruta perto de Tehuacan, no México. A fibra era uma fonte importante de recursos para os maias.
“Assim, muitos antes da chegada dos conquistadores ao novo continente, o algodão já fazia parte da vida de seus habitantes. Há quem diga que o fato de Cristóvão Colombo ter visto os habitantes das olhas de Barbados usando roupas de algodão fez com que ele pensasse ter descoberto o caminho para as Índias”, aponta Dinah Bueno Pezzolo.


2700 a.C.: A seda na China
Diz a lenda que uma princesa chinesa apanhou um casulo de uma amoreira e encantou-se com os fios brilhantes e finos desenroladas das lagartas. O segredo foi preservado nas muralhas e, tempos depois, seria descoberta a seda. Assim, o tecido nasceu sob o signo do luxo e do poder, conquistando logo as atenções ocidentais. A seda foi inventada na época do Imperador Huang Ti, cerca de 2697 a.C.


A Rota da Seda
Posteriormente, o Império Bizantino (395 a 1453) passou a produzir uma das sedas mais cobiçadas. Os romanos eram adoradores de seda, importando-a do Extremo Oriente. De acordo com Gilda Chataignier, o trajeto entre China e Roma se tornou a Rota da Seda.
Foi sob a dinastia Han (206 a.C. a 220 d.C.) que a China firmou as trocas comerciais com o Ocidente, via a rota de 7 mil km de extensão, atravessando territórios da Rússia, Índia, Afeganistão, Paquistão, Iraque, Irã, Síria, Turquia e Armênia. A Rota da Seda é considerada a mais importante ligação comercial e cultural entre Oriente e Ocidente por centenas de anos – e pode ser considerada uma precursora da idéia de comércio mundial.
Na época do Renascimento (1300 a 1650), a descoberta do caminho marítimo para as Índias ampliaria os horizontes e o Ocidente se apaixonaria pelo brilho dos tecidos bordados a ouro, das sedas finas e outras belezas orientais. Para Dinah Bueno Pezzolo, a seda tanto pode se mostrar macia e sedosa, quando cetim, como áspera e armada, quando shantung. “É o tecido dos nobres, como nobre foi o seu surgimento e como rainha dos tecidos se mantém”, diz Dinah.


História dos tecidos – Idade Média
A riqueza dos bordados europeus dava graça aos trajes da nobreza. A Itália e seus tecidos se destacavam e o comércio com o Oriente trazia todo tipo de novidades, texturas e cores para a Europa.


De 1000 a 1300 d.C
Os bordados europeus estavam bem desenvolvidos antes do primeiro milênio d.C.. A importância do bordado como uma técnica decorativa foi assegurada pela raridade e alto custo das sedas que, até o século XIII eram importadas do Império Bizantino e do Oriente Próximo. Apesar da maioria dos tecidos europeus serem feitos de lã e linho, as sedas se tornaram símbolo de poder e riqueza.


Século XII: Pashmina Himalaia
A fibra pashmina, proveniente da cabra tchang-ra, foi descoberta pelos mongóis no século XII. O nome vem da antiga palavra persa “pashm”, que significa “extremamente fina”. Além da tchang-ra, há outros animais lanígeros naturais do Oriente, como o camelo (China e Mongólia), a cabra cashmere (Tibete), a cabra angorá (Tibete e Turquia), coelho angorá (Turquia) e iaque (Tibete e China).


De 1300 a 1500
A Itália liderava a produção de lãs e sedas. Florença produzia roupas fine-quality, com lã importada da Inglaterra e tecidas em Flandres. Apesar da importância econômica da lã, foram as sedas italianas nos séculos XIV e XV que conquistaram o auge da fama na Europa, influenciando o design têxtil até o presente.
Entre os século XI e XV (então já na Idade Moderna), o tecido de algodão estampado nascia no Oriente e no Oriente Médio, antes do surgimento das telas indianas estampadas. Em 1498, quando o navegador Vasco da Gama ancorou na Índia, encontrou tecidos de puro algodão estampados com motivos florais e arabescos. Ao retornar a Portugal, levou os coloridos tecidos para a Península Ibérica, junto com porcelanas, sedas e especiarias.


História dos Tecidos – Idade Contemporânea


Século XVII: 1601 a 1700
Por volta de 1620, as rendas se tornaram uma obsessão na França, na Itália e na Espanha. Rendas bordadas com ouro e pérolas, feltros e musselines, seda moiré, chamalote e tafetá, veludo frisado, cetim e adamascados eram os tecidos em alta para confeccionar os vestidos chiques da época.
O tecido adamascado foi assim batizado em homenagem a Damasco, cidade da Síria onde os tecidos foram vistos pela primeira vez pelos cavaleiros das Cruzadas. De cor única, os tecidos destacam desenhos no cruzamento da trama com os fios do urdume, sob o efeito da luz. Durante centenas de anos, os chineses faziam tecidos de seda ornamentada, do Oriente para a Europa.
No século XVII, ainda sob a influência da cultura renascentista, os tecelões italianos consolidavam seus avanços, unindo o glamour com referências culturais da antigüidade clássica, com pinceladas humanistas e naturalistas. Antes dominada pela Itália, a nova época via a ascensão da França no domínio das clássicas sedas.
Nos Estados, a cultura do algodão se inicia na Virgínia, no início do século XVII. Nos anos 1700, já se expandia a Flórida, Geórgia, Louisiana, Carolina do Norte e Carolina do Sul.


Século XVIII: 1701 a 1800
Enquanto a Inglaterra dominava a linha masculina, a França inovava a feminina. Nesta época, fortalece-se a influência da cultura oriental, com laços, florais luxuosos, cores exóticas e quimonos importados na Companhia das Índias Orientais. A seda ganha mais brilho, ao lado de materiais luxuosos como veludos, brocados de ouro e prata e rendas.
No final do século XVII, as mulheres nobres usavam lenços de tafetá sobre os ombros, carregando ainda agasalhos finos feitos de peles de animais, considerados elegantes à época. Luxo e frivolidade marcaram a sociedade francesa da época, com um carnaval de vestidos “sinos” – com quase 150 centímetros de circunferência. Os tecidos clássicos e luxuosos dos séculos anteriores foram aperfeiçoados, adornados ainda mais com lantejoulas e rendas. Por outro lado, o estilo passou por uma reviravolta com a queda de Luís XVI e Maria Antonieta, com a Revolução Francesa. A simplicidade se tornou a palavra-chave para o espírito da época.


História dos Tecidos – Idade Contemporânea
A cashmere conquistou fama na Europa no final do século XVIII e início do XIX. O tecido dos vales da Caxemira graciosamente conquistaria a forma de xales perfeitos e elegantes vestidos, flertando com as tendências de texturas adamascadas, tafetás encorpados e toile-de-jouy.
Além disso, duas tendências se destacavam: as estampas florais nos vestidos e as inovadoras técnicas com retalhos de patchwork. Antes experimentadas por amadores, as tendências foram apropriadas por profissionais no século XX, que a transformaram em uma forma de arte.
“Durante o século XVIII, o domínio artístico da França e sua influência sobre a sociedade moderna impôs uma certa uniformidade na saída dos workshops que podem, por vezes, tornar difícil identificar a proveniência de um bordado particular. Mas, ao mesmo tempo, a diferença que sempre existiu entre os bordados feitos para o mais alto nível da sociedade e aquelas disponíveis para as pessoas de baixa patente parecia ficar mais acentuada, como a diferença notável entre o trabalho profissional e amador. Distintas tradições também tinham se desenvolvido no seio das comunidades camponesas em muitos países e os bordados sobreviventes, portanto, apresentam uma grande variedade de estilos que podem refletir o tanto seu desenvolvimento social quanto a sua origem geográfica”


França e Inglaterra, “oficinas do mundo”
No século XVIII, a França dominava artisticamente os bordados criativos, os tecidos luxuosos e, claro, as tendências. Até a Revolução Francesa, a corte criava e recriava vogas ao bel-prazer da rainha Maria Antonieta, uma fashionista precursora.
Ainda no século XVIII, a Revolução Industrial alavancava novas realidades para a produção. Desde então, cruzou fronteiras, transpassando Europa, América e Ásia. No campo da moda, a produção têxtil ganhava novos contornos com os avanços técnicos com as máquinas e teares


História dos Tecidos – Idade Contemporânea


Século XIX: 1801 a 1900
Na virada do século XVIII para o XIX, a época romântica trazia estampas com pequenas flores além da estética, as flores escondiam marcas sujas e manufatura pobre. Motivos medievais e naturalistas também continuavam em alta. Xales eram feitos em diversos tamanhos e eram usadas para todas as estações. Os materiais utilizados foram o algodão, lã, seda, cambraia, musselina e renda. As cores foram igualmente diversas: canário, verde, branco, vermelho e azul eram os favoritos. Foi o advento da cashmere, porém, que realmente fez o xale popular. O material macio, rico, feito de couro tibetano, foi primeiramente observado em 1755, mas apenas no século XIX realmente conquistou as atenções. No início século XIX, uma grande inovação do francês Joseph-Marie Jacquard, de Lyon, daria um up nos tecidos adamascados: o tear automático, que é usado até os dias atuais: o jacquard.


1835: A alpaca nos Andes
A lã de alpaca, da família dos camelídeos dos Andes, se tornou um tecido em 1836, quando sir Titus Salt misturou a alpaca com a seda. A lã se tornou popular na década de 1840, usada para confeccionar peças e forrar casacos. Nos países andinos, o tecido continua em voga, nas peças tradicionais. Além da alpaca, os pêlos da lhama e da vicunha também são usados para se tecer lãs.


1873: O jeans nos Estados Unidos
O jovem alemão Levi Strauss (1829-1902) era um mercador de rolos de lona, usados para cobrir barracas e carroças. Em 1872, o alfaiate Jacob David passou a adaptar os rolos para costurar calças para os mineradores, por serem mais resistentes às intempéries climáticas.
Ao descobrir o denim, um novo tipo de brim francês importado de Nîmes, Levi-Strauss e David passaram a produzir novas calças e, para amenizar as variações de cor, tingia o tecido com índigo blue. Nascia, assim, o blue jeans, patenteado pela Levi Strauss & Co em maio de 1873.


1869: O acetato na Alemanha
O fio sintético de acetato foi criado na Alemanha, em 1869. Posteriormente, os químicos Camille e Henri Dreyfus de Basiléia, no início do século XX, continuaram estudando o novo material. No entanto, seus estudos foram interrompidos com a Primeira Guerra Mundial, quando o acetato foi usado na fabricação de encerados para revestir os aviões franceses e britânicos. Em 1920, uma companhia inglesa produziu fibras de acetato com o método Dreyfus. Desde então, o fio é usado em lingerie, vestidos e malhas.


1888: O aertex na Inglaterra
Tecido de algodão lançado na Inglaterra no final do século XIX por Lewis Haslam, Benjamin Ward Richardson e Richard Greene, que formaram a Aertex Company, em 1888. Três anos depois, a companhia estava fabricando lingeries com aertex.


1889: O raiom na Inglaterra, a primeira fibra química artificial
Trata-se da primeira fibra química artificial, apresentada ao mundo em 1889, com o químico francês Hilaire Bernigaud, conde de Chardonnet de Grange (1839 a 1914). No entanto, a fibra recebeu o nome rayon em 1924, escolhido por Kenneth Lord, após um concurso para encontrar um novo nome para a seda artificial, feita de celulose. Em 1912, foram produzidas as primeiras meias finas de seda de raiom.


História dos Tecidos – Idade Contemporânea


De 1900 a 1920
Musseline, gaze e tule estavam na moda. Airosos e transparentes, gaze e tule davam frescor aos looks. A musseline é um tecido macio, fresco e fino, construído em ponto de tafetá – o nome é uma homenagem a “Mosul”, cidade no Iraque onde o tecido foi originado. Ao longo dos séculos, Índia e Bangladesh se tornaram o lar das musselinas exóticas. Alfaiataria, rendas, flores, arabescos e chinoiserie também marcaram a época.


De 1920 a 1939
Lamê, rayon, musseline organdi e organza foram os destaques da época. Entre as estampas, destacavam-se as listras e as ilustrações de arte moderna. A palavra francesa lamé corresponde à ideia de “adornos dourados e prateados”. É o nome dado a tecidos feitos com fios metálicos nesses matizes. Desde a década de 1930, o lamé é muito usado em vestidos de toalete.


1921: O raiom acetato na Suíça
Após o fim da Primeira Guerra Mundial, mais uma fibra química foi obtida nas experimentações laboratoriais. Os suíços Henry e Camille Dreyfus criaram a celanese, conhecida como raiom acetato.


1935: O nylon nos Estados Unidos
O nylon nasceu em 1935, de maneira triunfante na história da moda, pois fazia a roupa não amassar. Em 1949, o francês Robert Weill lança a expressão “prêt-à-porter” e traz a moda para a indústria, acessível para todos. Na esteira do nylon viriam o Tencel e a Lycra, tecidos importantes para o fast fashion.


De 1940 a 1950
Na época, a moda mesclava jérsei de lã, veludo cotelê e crepes. Enquanto a Segunda Guerra Mundial dava o tom para o pesado clima político da época, a moda se desdobrava para se manter na Europa. O estilo militar, mais sério, continuava em voga, com tecidos pesados e resistentes, como o tweed. Devido à escassez dos tecidos mais finos, como a seda, a moda precisou buscar materiais alternativos, como a viscose, o raiom e as fibras sintéticas. No pós-guerra, o New Look de Dior daria uma reviravolta na moda. O luxo e o glamour estavam de volta e, com eles, os tecidos nobres para vestidos sofisticados e peles.


1947: O acrílico na Alemanha
A fibra sintética foi lançada em 1947, mas o acrílico só foi produzido em larga escala a partir da década de 1950. É um tecido forte, usado na confecção de malhas e forro de botas, luvas e paletós, na tentativa de substituir a lã.


História dos Tecidos – Idade Contemporânea


De 1950 a 1960
Na esteira do New Look, de Christian Dior, os tecidos luxuosos voltaram às produções. Fustão cotelê, cetim e sedas. Além disso, nos tempos de juventude rebelde, jeans e jaquetas de couro conquistaram espaço privilegiado nos figurinos hollywoodianos e no cotidiano de milhares de jovens.


1958: A lycra nos Estados Unidos
No início, a lycra era um fio tão grosso que se destinava à confecção de cintas cirúrgicas. Depois, o fio ficou mais fino, incorporando-se à lingerie e à moda praia. Atualmente, a Lycra é capaz de se ajustar às curvas do corpo, como uma segunda pele.


De 1960 a 1970
Tweed, jeans e couro, estampas florais provençais e liberty, listras finas, bayadère e cartoons, vários estilos passaram a se mesclar ao longo da década de 1960. Enquanto muitos viam o auge de sua juventude em um simples e livre jeans, outros incorporavam a moda étnica, com túnicas floridas e xales indianos.


De 1970 a 1980
Arabesco estilo Pucci, motivos folclóricos e estampados românticos tipo hippie protagonizavam a moda da década de 1970.


De 1980 a 1990
Jeans, lycra e nylon com brilhos e cores estrelavam a década dos excessos. Assim como os modelitos, os tecidos eram over.


De 1990 a 2000
Microfibra, poliéster e strecht entram em cena, assim como as novidades na indústria têxtil foram incorporadas à moda, criando novas possibilidades para peças e estilos.
Na página 132 do livro Fio a fio, Gilda diz: “No século XXI, tudo é permitido e as influências socioculturais entram na dança frenética de tecidos, cores e materiais. Usa-se do clássico, reciclado e com aspecto de novidade, às pequenas loucuras lançadas por estilistas e designers têxteis e aceitas socialmente. Festa para olhos e pele que favorecem à indústria têxtil e à versatilidade da moda”.


História dos tecidos


Desvende as tramas entrelaçadas na história do tecido, da antiguidade aos dias atuais
Entrelaçar fios é a mais simples definição de “tecer”, um hábito cultivado desde a antiguidade. Cruzando as mais diversas épocas, é possível ler a história nas tramas do tecido: do Egito antigo à América pré-colombiana, da Inglaterra na revolução industrial no século XVIII ao revolucionário prêt-à-porter na França no século XX, dos teares mais rústicos aos fios nanotecnológicos, das fazendas mais simples às tessituras fashion.
No prefácio de Fio a fio: tecidos, moda e linguagem, de Gilda Chataignier (Estação das Letras, 2006), Kathia Castilho diz: “Como se vê, os fios tramam contextos, alinhavam histórias, arrematam elos de nossa cultura”. A história dos tecidos nos conta muito sobre o corpo, a moda, os costumes e hábitos, a arte, a cultura e a tecnologia de uma época.
Na página 46 do livro Fio a fio, a autora Gilda Chataignier diz: “[...] Ninguém duvida que o tecido tenha uma presença extremamente forte na sociedade contemporânea. Aliás, em tempos idos e vividos, a fibra tecida e vestida sempre foi símbolo de poder, segurança, competição, cobiça, gosto, elegância e outras variáveis de maior ou menor envergadura, incluindo seus opostos. Dentro das meadas que tecem a História, dos usos e abusos, torna-se patente e inequívoco que o pano é um catalisador de sensações que passam pelos sentidos dos humanos e celebram à sua moda, o que é bom usar ou o que merece ser esquecido [...]”
“Ao longo da história dos tecidos, certos padrões e tramas têm sido repetidos. Esses tecidos se tornaram clássicos e alguns clássicos permanecem populares de uma forma ou de outra, por exemplo, pontos, listras e florais. Outros clássicos entram e saem de moda, como o design paisley. É interessante notar um design têxtil clássico e ver o que o torna tão atemporal, para tentar reinventá-lo” Jenny Udale


Tecidos ponto a ponto


Confira os diferentes tipos de tecidos, fibras, textuas e estampas
Tecidos não são simplesmente “fios”. Muito além de pequeninas linhas emaranhadas, os tecidos compõem a base de todas as peças do closet contemporâneo. Poderia ser mais importante? Por isso, é interessante destrinchar de que são feitos os tecidos: os tipos de fibras, os tipos de textura e até os tipos de estampa. Afinal, nessa trama é possível ver a segunda pele para todas as peças, sem a qual a moda estaria nua.


Fibras sintéticas e artificiais
As fibras sintéticas são man made. As matérias-primas são polímeros da indústria petroquímica, como acrílico, aramidas, nylon, poliamida, poliéster e poliuretano. Nomes esquisitos? Pois essas fibras despontaram com os avanços nos laboratórios, alavancando a indústria têxtil e a criatividade dos estilistas. Apesar de resistirem bem ao passar do tempo, o revés das fibras sintéticas é a vulnerabilidade às mudanças de temperatura. As fibras artificiais, por sua vez, aliam as fontes de celulose e de proteína, criando telas de distintas texturas como acetato, rayon e triacetato – o único porém é que esses materiais são altamente inflamáveis. Entre os tecidos com fibras artificiais, destacam-se os veludos, as lycras e o damasco. Mas na linhagem das fibras sintéticas e as artificiais, as inovações não param, pois novos estudos continuam a experimentar possibilidades para os tecidos, com fios inteligentes e peças high tech.
As fibras naturais são encontradas a partir de fontes orgânicas, como celulose e proteína. O algodão é a principal fonte de fibras naturais – por sua versatilidade e harmonia com quase todos os estilos e épocas, os fios se destinam à produção de 40% dos tecidos do mundo. Também de celulose, o linho é a fibra mais antiga de que se tem notícia, com propriedades semelhantes às do algodão. Entre as fontes protéicas, destacam-se a lã, as peles e o couro. Cashmeres, angorás e minks davam um ar sofisticado às peças de inverno, mas atualmente recebem muitas críticas da sociedade e dos defensores dos animais, como a People for the Ethical Treatment of Animals (Peta). Além disso, há fibras naturais encontradas a partir de fontes minerais, como o amianto.


Tipos de tecidos
Tecido plano: Obtido pelo entrelaçamento de fios, nos estilos urdume e trama, formando um ângulo de 90º.
Tecido liso: Os franceses se referem a ele como tissu uni, um verbete bastante presente na alta-costura. Entre os tecidos lisos, há variáveis: o tecido simples (como o brim), o tecido composto (como o fustão), o tecido felpudo (como o veludo) e o tecido leno (como a gaze).
Tecido maquinetado: Originalidade dos detalhes, com delicados desenhos no mesmo tom do fundo.
Tecido jacquard: Também lembrado como tecido façonê, é produzido com fios multicoloridos entrecruzados.
Tecido estampado: Após a tecelagem, recebe estampa de desenhos e ilustrações.
Tecido de malha: Formado por laços cruzados lateral e verticalmente, de um ou mais fios.
Malha de trama: Entrelaçamento de um único tipo de fio.
Malha de teia: Entrelaçamento de conjuntos de fios, lado a lado no tear.
Malha mista: Mais conhecida como lad-in, com a inserção periódica de um fio de trama.
Tecido de laçada: Os fios fazem laçadas completas, isto é, nós completos que formam a base da armação.
Tecido “não tecido”: Como o nome indica, não passa pelos procedimentos tradicionais. Mas os enlaces das camadas de fibras formam uma folha contínua, como o feltro e o perfex.
Tecido especial: Estrutura mista e complexa equacionando o tecido comum, o de malha e o não tecido. Nesta composição, entram ainda materiais como filmes e laminados, como lamê e brocado.


Tipos de texturas
As texturas, também chamadas de “fio fantasia”, são as fibras transformadas no processo de fiação. Entre as principais, Gilda Chataignier destaca:


Boutonné: Pequenas bolas irregulares. No Brasil, é conhecido como “coco ralado”.
Bouclé: Aspecto irregular, efeito conquistado com o uso de fios encaracolados na trama.
Chenile: Franjas curtas e grossas, como um tapete.
Granité: Áspero e granulado, com crepes sensíveis ao toque.
Flame: Graduações de ligeiros relevos, irregulares como as chamas do fogo.
Frise: Efeito plissado.
Grenadine: Textura de seda brilhante – a linha do grenadine é usada na alta-costura.
Grippé: Franzidos na trama, provocando um aspecto encarquilhado.
Métallique: Desfiável e desconfortável, mas com um efeito estiloso e cinematográfico.
Mussê: O tecido lembra a mousse, fofa e leve, usada em musselines e crepes georgettes.


Tipos de estampas
Florais: Realistas, fotográficas, impressionistas, rabiscadas, abstratas, as flores sempre dão um ar romântico às estampas, com um toque bucólico e ao mesmo tempo sofisticado.


Geométricos: Linhas retas, curvas angulosas, esferas, triângulos, tabuleiros de xadrez, todas as formas geométricas que o compasso e a criatividade permitirem são bem-vindas nas estampas, extrapolando para notas musicais, grafismos e signos cibernéticos.


Históricos: Datas cívicas, personagens e heróis nacionais, efemérides históricas, datas comemorativas e símbolos patrióticos saltam dos museus às estampas.


Étnicos: Os souvenires mais simbólicos entram nessas estampas, com um ar alegórico de um país em uma época pretensamente “pura”, naïf, isto é, nativa e um tanto ingênua.


Artísticos: Baseados em escolas e tendências de arte, referentes a uma determinada época com seus estilos e estéticas. Classicismo, barroco, art-nouveau, art-déco, modernismo, psicodelismo e pop-art fazem parte dessas inspirações para estampas.


Listrados
No século XII e XIII, as listras conquistam certa notoriedade – mas não por bons motivos. Inicialmente, ilustravam representações negativas, como as camisetas listradas dos prisioneiros. Saltimbancos, cortesãs, malandros, feiticeiras e personagens diabólicos também eram relacionados a essas riscas. Ao longo da história, esse preconceito se perde no tempo: as listras conquistaram espaço nas camisas, looks românticos, estilo navy, peças colegiais, relacionando-se às ideias de modernidade e juventude.






Fontes
- Tecidos: história, tramas, tipos e usos, de Dinah Bueno Pezzolo (Editora Senac, 2007).
- Fio a fio: tecidos, moda e linguagem, de Gilda Chataignier (Estação das Letras, 2006).
- Textiles and Fashion, de Jenny Udale (Editora Ava, 2008).
- Textiles 5.000 Years, de Jennifer Harris (Editora Abrams, 1993).
- Enciclopédia da Moda, de Georgina O’Hara (Companhia das Letras, 1992).
- The Historical Encyclopedia of Costumes, de Albert Racinet (Studio Editions, 1990).

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