3 de set. de 2011

MUSEUS E CONCEITOS DE MODA – queilaferraz.fashionbubbles.com

A moda é tida como o uso passageiro que regula a forma de vestir, calçar e pentear que deriva de um gosto coletivo ou uma predileção por qualquer hábito e, sem dúvidas é uma prática geralmente imitada entre as pessoas. Representa quem somos o que pensamos e que imagem constrói para sermos reconhecidos no nosso meio social. É uma construção de imagem capaz de refletir, através de corpos vestidos, épocas e os costumes das sociedades que nela surgem. Gilda de Mello e Sousa: O Espírito das Roupas (1992).
A consolidação do fenômeno da Moda como área de estudo dentro das Universidades trouxe novos olhares e uma abrangência maior da percepção do vestir como fonte de formação de riquezas e mão de obra no mundo todo. Estudos encabeçados pelo núcleo de semiótica da PUCSP e pelos mestrados do SENAC, Universidade Anhembi Morumbi e Universidade Mackenzie, produziram uma grande quantidade de novas reflexões sobre a área e nos levam a rever conhecimentos produzidos entre os anos 80 e 90 do século XX.
Didier Grumbach e Daniel Roche, através da História das Aparências trazem à tona novos olhares para temas que estão sendo amplamente revisitados, exigindo novas definições. A mudança das antigas fronteiras e uma nova conceituação para a Alta Costura e o Prêt à Porter, obriga que essas áreas da Moda sejam analisadas também, como participantes das economias pós-modernas.

Os conceitos de Alta Costura e Prêt à Porter estão sendo revistos. A Alta Costura, hoje esta sendo estudada pela História das Aparências como formadora do Mercado de Luxo e geradora de um tipo particular de economia. Tais estudos não se atêm apenas às formas do vestir, mas também, levantam seu modo de fabricar e comercializar, ou seja, o sentido completo da cadeia produtiva do vestuário de luxo e seu consumo. Já o Prét à Porter passou a ser item obrigatório dos estudos da formação do mercado de varejo e do gosto das classes sociais emergentes.
Assim, a Moda passa a ser teorizada e discutida, não mais pela sua efemeridade e inconstância, como uma área delegada aos caprichos humanos, mas pelo seu consumo como objeto de design que obedece a função, necessidade e sensibilidade pessoal, e que determina o padrão de elegância mundial, gerando dentro das culturas de massa e da elite uma importante área de trabalho e de formação de riquezas de todas as economias nacionais contemporâneas.
A nova condição da Moda acaba também por mudar seus códigos e gerar nova maneira de interpretar os corpos vestidos, tanto na esfera pública quanto privada. A prova desta condição é o status dos desfiles de lingerie da marca Victoria’s Secrets em Nova Iorque.



Museus de Moda e História das Aparências
Na história das aparências os museus de Moda ocupam grande importância, pois, o que ali está depositado e exposto serve para demonstrar o parâmetro de elegância como termômetro da relação do indivíduo com sua cultura num determinado tempo e lugar. Qualquer acervo destes museus guarda a memória de cada tempo como demonstração da arte de viver de um período ou de um povo, quando não, as duas coisas ao mesmo tempo e da exibição de poder como marca de distinção social.
Segundo Daniel Roche (2007:19) em seu tradicional texto sobre a cultura das aparências, os trajes expostos nos museus documentam o uso da roupa como fonte de exibição, de poder, “como marca de distinção social, mostrando valores nos quais a extravagância, a loucura e o valor mercantil zombam das maneiras ordinárias e dos hábitos plebeus e vulgares”. Porém, o que de fato acrescenta seu parecer sobre os estudos da Moda, é a visão marcante deste fenômeno, como grande estimulador de comércio, que carrega consigo o valor cultural da mudança, no processo civilizador da cultura ocidental.

Tudo que é novo, tudo que muda é Moda, toda nova aparência é Moda, é moderna e por esse motivo, o estudo das aparências esta dentro do universo da história social e cultural, das praticas e formação de estatutos morais e éticos.
Fernand Braudel, citado por Roche, coloca o estudo das roupas e dos modos de vestir como parte da história dos comportamentos sociais e da história da cultura material, lembrando que no séc. XVIII, a Enciclopédia definia a palavra roupa como “tudo que serve para cobrir o corpo, para adorná-lo ou para protegê-lo das injúrias do ar”. Como modo de vestir, preferia-se a expressão costume.
A historiografia da vida social urbana percebeu, de imediato, a importância das roupas, não como patrimônio, que era o caso do traje na Idade Média, mas o seu uso como representação de modos de vida e das relações humanas.

O estudo da história social e cultural das aparências coloca os problemas que envolvem a produção, o uso e a inserção de valores demandados a partir das matérias-primas, suas estruturas de transformação, custos e benefícios, dos processos de construção dos objetos que constroem tais aparências e suas variações no tempo e espaço, capazes de revelar e esconder a posição social dos indivíduos no seio do grupo e sua mobilidade dentro dele, isso sendo possível mesmo nas sociedades campesinas, onde o vestir muda muito lentamente, porém a roupa nova, mesmo não sendo de modelo novo, representa alguma mobilidade no meio social, visto que representa uma disponibilidade financeira.
Assim, a história das aparências transformou a percepção teórica sobre o vestir como linguagem cultural do ocidente, visto que, o que se colocou como fonte de estudo a partir dela, foi o que se deve ser produzido, o que se deve ser consumido e o que se deve ser distribuído. A partir daí, entra em questão os modos de uso, os modos de produção e os modos de comercialização, dentro de condições temporais e geográficas que deixem demarcados, sobretudo, as esferas sociais, seus jogos de poder e caminhos de movimentação social.
Todos os estudos de Moda apontam o período moderno como o motor deste fenômeno. Roche (2007) nos fala do impacto dos movimentos de Reforma Protestante e Contra-Reforma Católica sobre o debate moral que este período viveu sobre riqueza e pobreza e que a roupa foi o centro desse debate porque carregava o valor de luxo e ostentação, próprios da nova estrutura social absolutista: o excessivo e o necessário, o supérfluo e o suficiente, o luxo e a mediocridade.
Para a moral cristã, tanto católica, quanto protestante, a roupa serviu para avaliar a adaptação dos costumes às exigências éticas sob novos códigos que acabaram por gerar uma nova economia com um sistema inteiro de produção e comercialização mercantilista.


A roupa falava de uma economia onde se devia consumir de acordo com sua posição social e uma conduta de decência civil, mostrando em que momento a sociedade se mostra abundante ou recessiva em sua economia. Através da Moda, a roupa, tem sido utilizada como instrumento social para exibir riqueza e posição, podendo revelar nossas prioridades, aspirações, traços de caráter liberal ou conservador. Emprestando elegância e cor ao nosso cotidiano, nossa aparência dá forma aos nossos sentimentos. Para Gilda de Melo e Sousa em O Espírito da Roupas, estas são a primeira e a última palavra da linguagem, que é a Moda.
Já, segundo Gilles Lipovevisky em O Império do Efêmero (1993), tudo que está em evidência num determinado momento da história, de alguma forma vira moda, podendo ser esta influência o estilo de uma cantora, uma artista, um criador de moda, ou até mesmo a situação em que um país vive (economicamente, cultural, etc.) Para ele, quem faz a Moda são as pessoas que gostam de algo que está em evidência por influência de algum acontecimento do momento ou de algum pop star, já que Moda é comportamento provocado pela identificação em massa.


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